Retrospetivas do que serei

Retrospetivas do que serei

Escrevi o mar…

Pintei o mundo…

Desembarquei em praias

de areia e ténues vagas de ondas loucas

em que contei passos e saltos da memória

soterrada pela areia fina das ilhas perdidas…

Construi as muralhas da sombra do vento,

pedra a pedra…brisa a brisa...

Pari poesia, nuvens e as vozes das estrelas do mar

nos enlouquecidos ais que gritei no precipício!

Corri em cima do muro sem asas e por entre os corpos

da sensualidade…impudica e doce…

Esplêndida e cheia de graça, virgens palavras consumidas

nas mesmas brisas que apanhei nas ruelas de Monsaraz

entre o meu e o teu olhar gemido de prazer…

Fui Vaga-lume e amei Papoulas

longes das praias em outras nuvens em outros campos,

empoeirado entre as espigas douradas…

Fui boémio em ruas tenebrosas
de vulto em vulto percorridas pelos infernos prostitutos

numa nudez sem espírito carcereira de adolescências,

dolorosas e ásperas…animalescas e tácitas…

Já fui menino e moço, homem e poeta,

navegador, amante….fui cama cauta e delicada…

Toquei pianos e violão sem prudência e mágoa,

desfiei palavras castamente cruas nas cordas

e nas teclas de marfins escrevi íntimos segredos

que o próprio amor nunca confessaria…

Lambi a vaidade humana doente e febril

sugando as subtis fraquezas vis como um cão doente

sofri por outros e morri inconsciente entre outras vozes..

Parti para longe sem sair daqui,

e o silêncio ficou adulto… pródigo e insolente..

Fui estátua esquecida de empoeirada prata

sem túmulo , ao vento…

Hoje longes das praias, das nuvens, dos campos,

das putas e das lutas...

Sou apenas um homem apaixonado…

Robert