Paixão de Guerra
(1)
Acordei com o miar da gataria correndo pelos telhados
de telha lusa e os néon que renasciam embriagantes.
Fui até à janela entreaberta e sentei-me,
com ar desmazelado…entre mil e uma ressaca
com os cabelos desatinados pelo homicídio do álcool,
em que a carpete suja tinha sido meu tumulo…
A névoa cor de azul verdadeiro pedia um analgésico
forte para atenuar a cegueira entre meus olhos e o
aglomerado de pérolas de salto alto recebendo indicações
do chulo descarnado e salpicado de um Patchouli rasca….
Ainda não tinham acendido as luzes do meu quarto envergonhado pela
desilusão desconsolada de ser um poeta analfabeto de
ideias afogadas no Gin e pelo infortúnio de uma convocatória
militar amarrotada e sebenta, escondida na algibeira
rota do fato cheio de poeira…
Ferviam pensamentos suicidas que gritavam enlouquecidos
meus sentidos...ao não conseguir abotoar uma simples camisa.
Minha boca seca e anelante tremia como um cavalo de corrida cansado...
…e cansada a voz disse-me!!
— Merdaaaaaaaaaaaaaaa…..Toma vergonha!
Quem grita?
— Tua alma…sou eu…
Noite de Agosto….
O néon já arde neste meu quarto…devoluto de felicidade
sem brisas dos cataventos de outrora que redopiavam
enquanto escrevia ao som dos espanta-espíritos de búzios….
Nem mesmo o papagaio palrador ranzinza me xinga mais…
Morreu!
Sai deambulante pela calçada noturna pontapeando beatas de cigarros
mal apagadas e repletos de marcas de batom…
Quando do nada um ser emplumado como o pescoço dum pavão
lança o repto seco:
- Tudo apenas por vinte euros!
Minha cabeça desértica calabreou aquele olhar trémulo com medo
de errar o discurso encomendado…ela ainda cheirava ao Patchouli rasca.
— Sou eu, caminhante sem esperança…em missão de guerra…ajuda-me!
Mas nas poeirentas algibeiras apenas está sepultado meu triste destino…
Desatino…
Robert
(Continua)
2 comentários:
Meu poeta e escritor favorito, vc se superada a cada dia! Parabéns! bjs
Vai ficar maravilhoso poeta! não vejo a hora de ler as cartas....
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